sexta-feira, outubro 27, 2006

Nem na morte

No centro cá da terra, existe, como suponho em todas as outras, uma barbearia. Pequena, apenas duas cadeiras , um espelho e um banco estofado e estafado encostado na parede oposta ao espelho, em género de sala de espera. A barbearia tem um pequena montra ao lado da porta e nela o fantástico acontece, como em tempos há muito idos: junto com os restauradores capilares (entre eles o mítico restaurador Olex), os pentes e os frascos de água de colónia, ficam alinhados em perfeita geometria pequenos anúnicos de necrologia. Até aqui tudo bem! Em vez do jornal, a malta passa na montra da barbearia e vê os defuntos. Qual secção de revistas num cabeleireiro ou consultório médico, existe, nesta barbearia, o jornal desportivo e a necrologia em faceta vitrinista.
- Ai o Sr. Armando, tinha um belo bigode, já lá está! Era um bocado aborrecido quando lhe penteava as madeixas do cabelo da orelha para o centro, p'ra tapar a careca, mas fora disso era bom homem.
- Oh Ti Alfredo! Tem visto por cá o Sr. Albertino?
- Oh rapaz está ali na montra!

Um mimo! Mas o mais fantástico é que no meio desta viagem no tempo existe o toque do moderno, a vanguarda, a globalização. Na maior parte dos necro-anúncios surge a sigla RIP.

Ora quem é que teve a ideia estúpida de usar uma sigla referente a uma frase anglo-saxónica? Os emigrantes? Não me parece, por aqui são todos de relação francófona. Algum triste com a mania que era melhor que os outros.

O que era pitoresco torna-se repugnante por tanta pequenez intelectual.... a menos que os mortos falem todos inglês!

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